domingo, 12 de agosto de 2007

Um cantador de cerne e raiz


Um dos cantores mais autênticos e populares do estado vive em São Borja, e convive diariamente com seus fãs

“A terra é tão importante, que cada gaúcho que se preze devia levar um punhado dela dentro do bolso da bombacha”. Esta frase é de Mário Rubens Battanoli de Lima - mais conhecido por Mano Lima – e sintetiza o sentimento de amor a terra pelos gaúchos. Nasceu em 26 de Agosto de 1953 na localidade de Bororé, na época pertencente ao município de Itaqui - atual Maçambará - é um dos cantores mais populares e autênticos do RS. Começou sua carreira em 1989, incentivado pelo amigo e poeta Apparício Silva Rillo. “Eu queria conhecer o Rillo fazia tempo. Um dia assei um churrasco pra ele numa estância em que trabalhava e nos conhecemos”, diz Mano. Mano Lima tem Rillo como um homem iluminado, uma pessoa de um grande coração e exemplo de ser humano. Foi Rillo que o conduziu ao mundo discográfico. Rillo dizia que Mano Lima é uma verdade, o que o deixava muito feliz.
Mano Lima é um filósofo e sábio campeiro, seus versos encontram-se no caderno do universitário e no bilhete escrito errado de um “índio” apaixonado que rabisca para a morena. Sua música está na camioneta a diesel importada do patrão e no assobio do peão de estância campo a à fora ou na encilha. É um dos poucos artistas que vivencia o que canta. Acredita que este é o segredo para um trabalho autêntico e de identidade. A representação nos palcos de ser o que não é, torna-se visível para quem é “gaúcho do lombo do cavalo”, diz.
Filho de Rubens Colombo de Lima e Alba Rita Battanoli de Lima, Mano é pai de Pedro Vargas de Lima, o qual já fez parte do álbum “Quando eu crescer”, cantando na música de mesmo título, composta em homenagem ao filho.
Mano, antes de viver da música era domador e tropeiro. Hoje não doma mais, apenas “ajeita a boca de alguns potro” pelos campos do Rio Grande, e diz que foi graças a gaita que toca, que deixou de ser tropeiro e passou a ser patrão. Possui 10 cds gravados, sendo que o primeiro, “Troveiro do Bororé”, foi o mais vendido entre eles, e a música que mais fez sucesso foi “Como é que tô nesse corpo”. Está preparando seu mais recente cd pela gravadora Acit. Com mais de 10 comunidades no site de relacionamentos “Orkut” e mais de 15 mil participantes entre elas, Mano Lima lida com sua popularidade como se todos fossem seus amigos. Vem realizando shows periodicamente em todo o estado com os acompanhantes: Roque Guarani, Jorge, Yuri e Jonas.
Reunido em família, pai, filho e namorada (foto), em seu singelo e aconchegante galpão, no pátio de sua casa, diante de um fogo de chão e tomando mate na companhia de seus cachorros da raça Chow-chow, Mano concedeu entrevista de maneira informal, falou em valores, amizade e política. Veja a entrevista:

Felipe Severo - Que poeta admiras?
Mano Lima – Apparício Silva Rillo

FS - Cantor?
Mano – Gildo de Freitas pela autenticidade, Teixerinha pelo poder de voz, José Mendes pelo romantismo e o argentino Jorge Cafrune pelo estilo original.

FS – Uma música?
Mano – Timbre de galo, que Apparício compôs para mim.

FS – Como é sua rotina hoje?
Mano – Campo. O campo é a hemoglobina do gaúcho.

FS – E o DVD?
Mano – Sim. Aceito se for de maneira histórica. Ensinando costumes campeiros, como: botar uma tropa n’água, abrir um quarto de ovelha pra colocar nos arreio, etc. Mesclando música e costumes sim, somente musical não.

FS – Porque não participa mais dos festivais de música nativista?
Mano – Admiro muito os festivais. Participei de alguns e ganhei um com a música “Quarto de Ronda”. Penso que a música é para cantar e não para competir. A música é sensibilidade. Hoje vejo nos festivais, muita hostilidade entre os irmãos de profissão.

FS – Qual sua opinião sobre a aculturação dos nossos jovens?
Mano – A mídia influencia muito na conduta do jovem. Penso que a falta de valores é um dos maiores problemas do Brasil.

FS – Qual sua opinião sobre a atual política brasileira e seus escândalos?
Mano – A moral política brasileira deve ser levantada imediatamente. Diminuindo os salários, pensando mais no interesse coletivo, da pátria. Antigamente os políticos tinham mais valor do que hoje. Com a diminuição dos salários, quem se candidatasse estaria realmente interessado em trabalhar em prol de todos. O quadro entre música e política se inverteu. Antigamente o músico era desprivilegiado e o político era respeitado. Hoje é o contrário, o político não tem crédito e a música é respeitada. Vejo que o mal se uniu e o bem se desuniu.

FS – Qual sua opinião sobre o MST?
Mano – A culpa é dos militares atuais. Os bandidos anarquizaram com o exército atual, porque antigamente o exército era exemplo de disciplina. Deixaram que a miséria e a degradação do ser humano fosse tomando conta. Então isso tudo (MST) é resultado. A reforma agrária da maneira atual é um erro. É fruto dessa desordem no país, da prepotência e da falta de humildade de quem se “adona” de tudo e esquece dos outros. Bom seria que cada um que conquistasse seu pedaço de terra como eu conquistei, através do trabalho, sem receber título de nada, mas que conquistasse um lugar no mundo. “Ensine a pescar e não dê o peixe” - diz na Bíblia - para não tirar do homem o que há de melhor nele, que é a sua auto-estima. Mas como nada disso acontece, torcemos por uma reforma agrária bem feita, ou seja, a maior reforma que deve ser feita é na cabeça das pessoas, com educação e ensinando a trabalhar, através de escolas agrícolas. Pois como vou matar a fome de alguém dando um boi, se esse alguém não sabe ao menos carneá-lo? Não defendo os estancieiros, eles são os causadores pelo mal que aí está. O capitalismo selvagem e o comunismo, um é filhote do outro. A mágoa vem da prepotência. Por isso a reforma maior a ser feita é a do ser humano. Como nosso exemplo vem de cima, tem que reformar primeiro os políticos.

FS – Existe uma comunidade no Orkut que se chama “Mano Lima para governador”, isto seria possível?
Mano – Se meu povo disser que devo ir, eu vou. E fico entretendo o diabo para que eles fiquem com Deus.

15 comentários:

Rafael Balbueno disse...

Mano Lima é um gênio, o triste é que, eu como São Borjense me sinto a vontade pra dizer, o lugar onde ele menos possuí o reconhecimento merecido é São Borja. Você não ve por aí show com ele. Enquanto de mês em mês os clubes trazem os tchê alguma coisa pra subir no palco de calça jeans e boné.
MANO LIMA PRA GOVERNADOR. hahaha

grande reportagem capitão, parabéns!

Unknown disse...

Esse cara tem caráter, merece o respeito que o pessoal tem com ele, eu como amante da musica nativa não posso dizer que sou fã das suas musicas(Não que não sejam nativas, mas tenho gostos diferentes), mas posso dizer que sou fã dele.

um forte abraço aos amigos...

Unknown disse...

tche felipe!!!nos q somos de Alegrete e temos raizes no tradicionalismo nos orgulhamos de jovens q se interesem pelo assunto.parabéns pela reportagem fico joia mesmo!

Unknown disse...

Mano Lima é um cara de se respeitar, suas opiniões são de alguém com integridade para falar o que pensa. Parabéns Capitão grande reportagem.

Anônimo disse...

Um verdadeiro tradicionalista gaúcho, um dos mais respeitados artistas do RS...ótima reportagem Felipe!!!

Anônimo disse...

muito legal, Felipe!
me proporcionaste uma maneira de aprender sobre as coisas do sul!
teu blog já foi adicionado aos favoritos.
continues assim!
beijo,
clarissa

Anônimo disse...

Achei muito boa a entrevista pois é estimulante ouvir alguem que pensa como a gente,(principalmente por ser contra a forma de política atual), nos faz reacreditar que ainda pode ser diferente.
Apesar também de não ser fã do tradicionalismo, gosto muito das músicas do Mano pois falam com realidade das coisas do campo.
Parabéns Felipe!!

Unknown disse...

Muito bom, continue assim . Meus parabéns tchê, grande entrevista de muita valia para quem gosta e ama as nossas raizes. Parabéns...
Grande abraço e muito sucesso
Tiago Bueno

Anônimo disse...

Felipe,

Sair de Lavras e enfrentar as ásperas "quinas" do caminho, não é tarefa para qualquer um. Seguir um rumo, é tarefa que dependerá de muita determinação, esforço e principalmente, capacidade. Isto eu sei que tu tens.
Que bela entrevista, fluída, temas recorrentes e atuais.
Que Deus te ilumine, e continue te acompanhando por ondes fores.
Um baita abraço,

Tio Guti

Anônimo disse...

MEU GALO, GRANDE MATÉRIA .. SEGUE ASSIM Q TU VAI LONGE, AINDA MAIS FAZENDO AS COISAS Q TU GOSTA!
MEUS PARABENS, UM GRANDE ABRAÇO

Anônimo disse...

Bela matéria Felipe...muito bom conhecer e saber um pouco mais desse ícone da nossa música nativista. Mostrou, além de tudo, um lado mais sério e politizado desse grande artista da nossa cultura. Parabéns a vocês dois. A ti, pela escolha do entrevistado e pelos temas para as perguntas. A ele, pela simplicidade e clareza de suas idéias, aliás, predicados que eu já sabia que ambos têm há tempos. Grande abraço.

Anônimo disse...

buena matéria Dom Felipe...
me traz a memória a boa época do teu programa Desencilhando na Pepita aqui de Lavras, um dos poucos com música de qualidade...
o Mano tava sempre presente assim como outros ícones.
Mano Lima é diferenciado dos que querem ser e não são, eis a diferença da autenticidade.

abraço e siga fazendo reportagens angajadas como esta...

Elder Nunes Corrêa Junior disse...

Muito boa a matéria.

alem de ser com este ícone, q é o mano Lima, foi muito bem feito por ti...
tambem pudera, faz o q gosta. continue neste caminho q nos trará muitas felicidades.

abração

Unknown disse...

dai felipe..
Parabéns cara pela entrevista!
na minha opinião escolhesse muito bem o entrevistado, um ícone da nossa cultura tradicionalista. Isso ai tche
continua nesse caminho que tu vai longe guri! Mesmo sendo colorado..
Abracão!

Anônimo disse...

Matou a pau a reportagem!
O Mano véio é uma fera! Muito bom, simples, e respeita o público!
Parabéns pelo blog. De fundamento!